[Resenha] - Livro: São Bernardo
"Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que me deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las."
O livro "São Bernardo", escrito por Graciliano Ramos, é narrado em primeira pessoa pelo personagem Paulo Honório - fazendeiro de origem pobre que enriqueceu por meios desonestos.
Ele decide escrever a história de sua vida depois de uma dolorosa perda que o magoa, mas que fora ocasionada por ele próprio. Durante a juventude, esfaqueou um homem. Foi preso e, na prisão, aprendeu a ler. Não sabe quase nada sobre sua família, tendo sido criado pela doceira Margarida.
Arquiteta um plano para levar à falência o "amigo" Luís Padilha, dono da fazenda São Bernardo. Ao atingir o objetivo, compra a propriedade, realiza o antigo sonho e passa a ser chefe do lugar. Consegue ampliar as fronteiras de suas terras utilizando violência e sua influente rede de contatos, formada por Casimiro Lopes, o jornalista Gondim, o padre Silvestre e o advogado Nogueira.
Paulo Honório percebe, então, que está na hora de casar. Engata um relacionamento com a professora Madalena, que logo se torna sua esposa. Ela vai morar na fazenda e leva consigo sua tia Glória. O casamento, no entanto, é marcado por brigas e desconfianças. Apesar do ganho material, Paulo Honório possui um complexo de inferioridade que acaba descontando sobre Madalena.
A esposa - de opiniões fortes - luta por melhorias na qualidade de vida dos empregados, sente-se só e, por mais que goste de Paulo, sofre muito com seu autoritarismo. Inteligente e bela, escreve uma carta de várias páginas e o marido acaba encontrando uma dessas partes. Indaga aos gritos quem é o destinatário e ela, calmamente, responde ao marido que o excesso de ciúme estragou a história que poderiam ter construído.
O restante da carta Paulo Honório só viria a ler no dia seguinte - em circunstâncias absurdamente tristes.
Opinião: Li esse livro por conta da escola e, recentemente, reli para o projeto Tertúlia Literária, da Faculdade de Educação da UFMG, do qual agora faço parte. A intensidade, essa força quase brutal da escrita de Graciliano, faz da obra instigante e envolvente. Um convite à reflexão sobre o ciúme, a sede de poder, o caráter e, também, sobre os direitos humanos.
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