[Resenha] - Livro: Ensaio sobre a cegueira

O livro Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, é uma obra filosófica, intensa e carregada de peculiaridades linguísticas. Saramago abre mão de pontuação e abandona a divisão em capítulos, fazendo da leitura uma experiência diferente. Além disso, foi mantida a ortografia vigente em Portugal.

Um homem estava dirigindo seu carro. O sinal fechou. Ele parou o carro. O sinal abriu. Ele já não via mais nada. Cegou completamente e de repente. O mundo - antes cheio de cores e formas - era agora uma brancura enevoada, nada mais que isso. "Nascia" aí o primeiro cego tomado pelo "mal-branco".

A cegueira começou a se espalhar, como um epidemia, sem escolher suas vítimas. O médico oftalmologista (que ironia!), a mulher de óculos escuros, o rapazinho estrábico, a mulher do primeiro cego... são exemplos da pessoas acometidas da doença misteriosa. É interessante ressaltar a ausência de nomes dos personagens, como se lhes bastassem a voz e o tipo que representavam. (Isso é destacado por um escritor, também personagem da história).

Havia, no entanto, um par de olhos que tudo viram. Eram da mulher do médico que, abençoada ou castigada, não cegou. Ela presenciou todo o horror vivido pelos homens que, sob a condição de cegos, perderam o controle de suas vidas.  Foram todos levados para "prisões" que garantiriam segurança a eles e ao resto da sociedade. O livro traz relatos fortes de violência, estupros, fome e muitas coisas que, na narrativa, animalizaram o ser humano.

Opinião: Um livro que com certeza me marcará para sempre. Uma leitura difícil, não tanto pela maneira alternativa de construção do texto pelo autor, mas sim pela intensa ligação e solidariedade com os personagens da história. Sofri com eles, ceguei como eles, muitas vezes vi a aflição em que viviam através dos olhos da mulher do médico. Ensaio sobre a cegueira coloca em destaque muitas reflexões sobre nossa própria condição e responsabilidade como humanos. Leitura recomendada! 

Avaliação:

Citações favoritas:

"Aonde vais, que é, provavelmente, a pergunta que os homens mais fazem às suas mulheres, a outra é Onde estiveste."

"na verdade ainda está por nascer o primeiro ser humano desprovido daquele segunda pele a que chamamos egoísmo, bem mais dura que a outra, que por qualquer coisa sangra."

"ah, sobretudo os olhos, virados para dentro, mais, mais, mais, até poderem alcançar e observar o interior do próprio cérebro, ali onde a diferença entre o ver e o não ver é invisível à simples vista."

"Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem."

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."

Outras capas:

Comentários

  1. Thaís resenha maravilhosa! Esse é o livro de Saramago que eu mais tenho curiosidade de ler e pelo visto ele é tudo (ou mais) do que eu já tava esperando. Uma pena eu não tê-lo em casa já. Mas ele com certeza vai entrar na lista de prioridades de compra.

    Um beijo!

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    1. Obrigada, Brenda! É muito bom! Leia sim! :) Eu peguei na biblioteca aqui rs
      Beijo!

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  2. Olá Thais

    Este livro é maravilhoso, daqueles que nos deixam ansiosos e ao mesmo tempo nervosos enquanto estamos lendo. Recomendadíssimo.
    Abraços

    http://reaprendendoaartedaleitura.blogspot.com.br/

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  3. Saramago é perfeito!
    Esse foi o primeiro livro que li dele e simplesmente me apaixonei.
    Sabia que tem o filme? Eu ainda não tive oportunidade de assisti-lo as pretendo.
    E estou adorando o blog de vocês. É muita afinidade.
    www.minhassipressoes.blogspot.com.br

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    1. Este foi o segundo dele que li, mas o que mais gostei. Sabia! Também não vi ainda. :~
      Que bom que está gostando!

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  4. Perfeito. Um dos melhores livros que já li na vida. Realmente, é bem forte, temos que ter coragem pra seguir em frente. O filme, apesar de mostrar cenas fortes, acredito que não seja tão impactante como é o livro. Saramago, além de descrever perfeitamente as cenas, ainda coloca lições para pensarmos. E talvez isso seja o "pior". Ele descreve com frieza algo que - Deus me livre - aconteceria caso tivéssemos uma epidemia do tipo.
    Adorei a resenha!

    www.cometaseestrelas.blogspot.com.br

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